A COMUNICAÇÃO [for english translation click here]
Qualquer pessoa que se tenha debruçado sobre o assunto “arte” provavelmente se deparou com a famosa questão “o que é a arte?”. Bem, eu recordo-me da primeira vez que ouvir tal pergunta: foi no meu 10º ano, tinha acabado de escolher a área das artes como primeiro “estreitamento” da minha formação. Lembro-me que estava cheia de medo de não me conseguir destacar, (tinha sido sempre fácil destacar-me numa turma em que eramos poucos os que se davam ao trabalho na disciplina de Educação Visual)Não procurava que fosse fácil, mas assustava-me o falhanço, como assusta muita gente a muitas alturas da vida, penso.
A verdade é que a resposta que aprendi nessa altura era bastante simples: a arte é comunicação. Era uma resposta satisfatória: simples, directa ao assunto.
Simplesmente, mais tarde, na universidade esta resposta que dava um chão tão firme ao que eu pensava da arte foi posta em causa. Disciplinas como a Estética falavam-me de Senhores (grande Senhores até!) que tinham pensado sobre arte; e que começavam e acabavam as suas explanações com a mesma dúvida “o que é a arte?”.
Numa altura de certezas mais frágeis aceitei o facto (com alguma relutância) de que nunca ia fazer as pazes com essa dúvida e que iria trabalhar ao lado dela. No entanto, continuando a desenvolver os meus trabalhos, e observando outros que apareciam nos corredores da faculdade apercebi-me que algo que me irritava solenemente: o desprezo que muitos trabalhos apresentavam pela técnica. E não ouvia ninguém falar disso! Era estranho. Consolidei, então, a minha posição em relação à técnica e isto fez-me retornar à história da “comunicação”. A arte podia e talvez fosse comunicação – e, dito isto, podíamos salvar a técnica. A técnica é a linguagem da arte. Isto é uma premissa pessoal! A partir desta premissa construí a minha posição – a técnica é altamente importante, e nem todos entendiam isso. Não sei mesmo porquê. Não estou a defender virtuosismos, apesar de achar que quem os tem, pode muito, mas acho que se comunicamos com uma pessoa, ela tem que entender-nos, caso contrário a comunicação não existe.
Ou seja, se eu estivesse a escrever para si e usasse as letras como bem me apetecesse formando palavras que não existem, provavelmente não me ia fazer entender, a culpa não era sua certamente.
Há uma grande diferença entre o que era a arte antes e no que ela se transformou agora. É também um fosso montado desnecessariamente entre o design de comunicação e a arte. A arte podia e devia andar de mãos dadas com o design, talvez se os artistas “criativos” tivessem a criatividade mais disciplinada, ou a personalidade, ou a maturidade, não sei. Sei que a arte está a tomar um caminho “estranho” e não me parece que este “estranho” seja aquele estranho que se chamava aos agora conceituados trabalhos das vanguardas. Esses tinham um sentido interessante ao nível da expressão da linguagem e, na verdade, essa expressividade nunca destruiu a mensagem.
Estou a queixar-me apesar de poder fazer da “minha” arte o que eu entender, mas receio que cada vez haja menos lugar no campo das artes plásticas para a minha abordagem e a de alguns colegas meus com quem discutimos isto variadíssimas vezes.
Estou à procura de uma solução, não para “fazer arte”, mas para comunicar – não comunicar uma birra ou um capricho, porque sejamos francos, isso não interessa a ninguém – mas para comunicar coisas importantes, e temo que essas coisas importantes se expressem agora mais nas artes gráficas que nas artes plásticas.
Se achou que lhe ia responder o que é a arte e dizer-lhe para tomar isso como uma verdade – esqueça. Não vou impor-me dessa maneira. Mas posso dizer que para mim ainda hoje faz sentido não patinar na dúvida filosófica (por muito que goste de filosofia) e ficar-me pela resposta simples – comunicação.
Se não for isso não me ocorre que seja alguma outra coisa. E digo isto de forma humilde. Não tenho idade nem bagagem para que seja de outra forma.
E marcando um registo um pouco diferente, em vez de começar e acabar o texto com a mesma dúvida, acabo com a mesma resposta.
MJoana
A verdade é que a resposta que aprendi nessa altura era bastante simples: a arte é comunicação. Era uma resposta satisfatória: simples, directa ao assunto.
Simplesmente, mais tarde, na universidade esta resposta que dava um chão tão firme ao que eu pensava da arte foi posta em causa. Disciplinas como a Estética falavam-me de Senhores (grande Senhores até!) que tinham pensado sobre arte; e que começavam e acabavam as suas explanações com a mesma dúvida “o que é a arte?”.
Numa altura de certezas mais frágeis aceitei o facto (com alguma relutância) de que nunca ia fazer as pazes com essa dúvida e que iria trabalhar ao lado dela. No entanto, continuando a desenvolver os meus trabalhos, e observando outros que apareciam nos corredores da faculdade apercebi-me que algo que me irritava solenemente: o desprezo que muitos trabalhos apresentavam pela técnica. E não ouvia ninguém falar disso! Era estranho. Consolidei, então, a minha posição em relação à técnica e isto fez-me retornar à história da “comunicação”. A arte podia e talvez fosse comunicação – e, dito isto, podíamos salvar a técnica. A técnica é a linguagem da arte. Isto é uma premissa pessoal! A partir desta premissa construí a minha posição – a técnica é altamente importante, e nem todos entendiam isso. Não sei mesmo porquê. Não estou a defender virtuosismos, apesar de achar que quem os tem, pode muito, mas acho que se comunicamos com uma pessoa, ela tem que entender-nos, caso contrário a comunicação não existe.
Ou seja, se eu estivesse a escrever para si e usasse as letras como bem me apetecesse formando palavras que não existem, provavelmente não me ia fazer entender, a culpa não era sua certamente.
Há uma grande diferença entre o que era a arte antes e no que ela se transformou agora. É também um fosso montado desnecessariamente entre o design de comunicação e a arte. A arte podia e devia andar de mãos dadas com o design, talvez se os artistas “criativos” tivessem a criatividade mais disciplinada, ou a personalidade, ou a maturidade, não sei. Sei que a arte está a tomar um caminho “estranho” e não me parece que este “estranho” seja aquele estranho que se chamava aos agora conceituados trabalhos das vanguardas. Esses tinham um sentido interessante ao nível da expressão da linguagem e, na verdade, essa expressividade nunca destruiu a mensagem.
Estou a queixar-me apesar de poder fazer da “minha” arte o que eu entender, mas receio que cada vez haja menos lugar no campo das artes plásticas para a minha abordagem e a de alguns colegas meus com quem discutimos isto variadíssimas vezes.
Estou à procura de uma solução, não para “fazer arte”, mas para comunicar – não comunicar uma birra ou um capricho, porque sejamos francos, isso não interessa a ninguém – mas para comunicar coisas importantes, e temo que essas coisas importantes se expressem agora mais nas artes gráficas que nas artes plásticas.
Se achou que lhe ia responder o que é a arte e dizer-lhe para tomar isso como uma verdade – esqueça. Não vou impor-me dessa maneira. Mas posso dizer que para mim ainda hoje faz sentido não patinar na dúvida filosófica (por muito que goste de filosofia) e ficar-me pela resposta simples – comunicação.
Se não for isso não me ocorre que seja alguma outra coisa. E digo isto de forma humilde. Não tenho idade nem bagagem para que seja de outra forma.
E marcando um registo um pouco diferente, em vez de começar e acabar o texto com a mesma dúvida, acabo com a mesma resposta.
MJoana